Confira abaixo a crítica do escritor e psicanalista “Eduardo Lucas Andrade” sobre o filme DENTRO

O curta-metragem de Alisson Resende é tocante, nome certeiro e de uma profundidade que da vontade de adentrar na sombria cena. O curta tem bem aventurado trabalho de transmissão e faz sentir a angústia desassossegando o espectador a uma instigante expectativa de salvar a personagem, que presa, está presa em si mesma, pedindo gritantemente de forma repetitiva e sem força para dali sair. Sair de si? Ou sair do sofrer psíquico que aprisiona sem o pensamento saber o porquê? Sua força são gritos no interno, é linguagem que goteja, é pedido de socorro que não sai com tamanha potência conforme gritado; sai pelas brechas da porta encaixada – mas sai despedaçando a imagem do que fala.

A angústia aprisionada sem a possibilidade de se ver, sem a possibilidade de não ser mais que um sentir-se encolhido no calabouço da solidão me faz pensar numa caverna de Platão da solidão. O espelho quebrado, irrefletido, desperdiçado. A perda da imagem para as sombrias angustias do ser é retratada.  O sujeito nas brechas da porta consegue sair apenas em parte, e apenas em parte o outro pode ajudar, pois quando ouvimos o sofrimento de alguém, escutamos apenas pormenorizadas sensações daquele sofrer, pois o mesmo, pela sua cortante vértice real não se partilha totalmente.

O curta aborda com firmeza a depressão, a retirada do sujeito de seu lugar e o suplício pela morte querendo acabar com a dor que a assola. O suicídio é tema tocado e fica nítido que ele conforme possibilitado no curta é alternativa do sujeito que quer acabar com o insuportável que está acabando com ele, não com a vida. Quer sair! É curta, mas parece longínquo, pois angústia retarda a relatividade do tempo, para quem sofre minutos são horas. O de dentro precisa respirar, sair, daí cortes os cortes feitos por adolescentes, daí corações indo à goela em batidas de vida que ao irem no limite mais parecem morte.

A abertura da aorta causa medo, o mesmo podemos dizer da porta. Sair, mas o que espera do lado de fora? Como foi parar ali? Quem poderá ajudar? A vontade de ajudar que o suspense coloca é justamente o ponto dentro – não criticar, não julgar, acolher e ofertar saídas é que podem ser pontos de ajuda viva! Somos todos bebês desamparados frente a forca psíquica da clausura.

A excelente atriz, Ruth Flôres que atuou como Bárbara vestiu a angústia a sério, pois este sinal de alerta é justamente um grito que traz tentativas de se reviver! Bárbara, feliz nome elegido, pois é bárbara aquela pessoa que luta com as amarguras da vida tentando sair e erguer-se das caídas da vida!

Eduardo Lucas Andrade, escritor e psicanalista.

crítica

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